sexta-feira, 29 de junho de 2012

As três semanas…

Como prémio pelo excelente comportamento e como reconhecimento do mérito escolar pelos seus maus desempenhos nos exames, todos os alunos do 4º ano que se virem chumbados nos exames de final de ano terão obrigatoriamente mais três semanas de aulas. Uma espécie de segunda oportunidade para quem não se conseguiu safar. Portugal é um país caricato. Ao contrário do que parece acontecer no resto do mundo, em Portugal o ensino tende a ser cada vez mais facilitado. E o facilitismo começa, infelizmente, cada vez mais cedo, numa idade em que é fundamental os alunos saírem bem preparados, com conhecimentos assentes em bases seguras. Mas o que tem interessado é “forçar” a aprovação de todos os alunos, transmitindo-lhes uma mensagem de que não precisam de se esforçar para passar. Acabarão por ser “empurrados” para o ano superior, mesmo sem conhecimentos para tal aprovação. À boa maneira portuguesa, enveredamos pela lei do menor esforço e pela procura desenfreada de números que tentem demonstrar uma melhoria na qualidade de ensino quando se passa precisamente o oposto. Desta forma, não estará muito longe o dia em que não será preciso saber ler nem contar para se atingir o 5º ano. E depois vê-se. Os professores do 5º ano que tiverem o azar de ficar com turmas onde estejam incluídos esses alunos que se desenrasquem. E esses professores terão mesmo de se esforçar pois reprovar alunos é cada vez mais complicado e mais burocrático. Para se chumbar um preguiçoso ignorante é preciso mandar um requerimento à Troika a pedir permissão para tal, muito bem justificado dado que as notas dos exames já não servem de justificação para uma reprovação. É preciso mais imaginação. No fundo, estas três semanas extra para alunos que reprovaram são apenas um castigo para os professores mal comportados que, por obra de justiça divina, viram os seus alunos reprovarem nos exames. Tudo por culpa dos pecados dos professores que insistem em ensinar. São mais três semanas em que os professores terão de aguentar os alunos mais cromos. E tentar incutir-lhes em três semanas os conhecimentos que deveriam ter adquirido num ano lectivo. Sobrecarga para os alunos? Nada disso. Trata-se, isso sim, de uma grande e penosa cruz para os professores. É que se mesmo assim os alunos voltarem a reprovar. lá virão os pais dizer que os professores é que são culpados. E com alguma razão. Em vez de se dedicarem ao ensino, que optassem por outras áreas. Que tirassem outras licenciaturas. Da maneira como isto vai, muito brevemente deixaremos de ter professores e vamos ter apenas acompanhantes do ensino já que estão a perder o poder de avaliar.
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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Misticismos…

Afinal, o que se passa com Mubarak? Faleceu ou não faleceu? Que mania têm estes ditadores, que se acham extremamente importantes, de chegarem ao ponto de mistificarem a própria morte? Não podiam simplesmente falecer? Parece que não. Até a sua morte tem de ser o centro das atenções e do debate universal. Num momento Mubarak falece mas no momento seguinte o suposto cadáver afinal ainda estrebucha. Ainda para mais tratando-se de um ditador egípcio, a coisa fica ainda mais misteriosa, mais enigmática. No Egipto nada é simples. Até o natural acto de respirar revela todo um desígnio místico e divino. Por outro lado, é reconfortante ver que os ditadores não andam com a vida nada fácil. Uns falecem, outros são condenados, outros são perseguidos e assassinados. Longe vão os tempos em que ser ditador era ter uma profissão segura, de futuro, algo dignificante para um dia contar aos filhos e netos. Mas, actualmente, nem a licenciatura de Tirania concedida na Universidade Independente assegura um futuro tranquilo e risonho. A crise mundial já afecta os tiranos e não apenas aqueles que terminam a licenciatura ao domingo. Mas enquanto outros se instalam comodamente em Paris, outros ora falecem ora ganham vida. Mubarak ainda não deve ter a certeza de que terá as quarenta virgens à sua espera e estará a ultimar essas negociações para não ser apanhado de surpresa ao chegar ao Além. Sim, porque hoje em dia não se pode dar por garantidas as quarenta virgens celestiais. Mubarak pode ter o azar de, ao falecer, ver a sua alma ser transportada para uma espécie de Casa dos Segredos celestial, onde o esperam não as quarenta virgens mas as doze ordinárias. O que, em todo o caso, pode não ser necessariamente mau. Entre a pureza/inocência e a perversidade, os homens sempre optaram pela segunda. O Inferno sempre foi bem mais tentador. Mas a verdade é que ainda não se sabe qual o estado de saúde de Mubarak. Temos de interpretar os sinais que são visíveis e especular até encontrar um padrão que permita resolver todo esse enigma. Precisamos de criptólogos e egiptólogos. Mesmo debilitado, Mubarak presta homenagem aos seus antepassados e envolve em mistério o seu estado físico. Ao menos este não se lembrou de construir pirâmides.
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terça-feira, 12 de junho de 2012

No mundo da fantasia…

Francisco Louçã, esse popular narrador de contos e fábulas para adolescentes e adultos mais radicais, veio a público iniciar mais uma das suas fantásticas estórias. Segundo Louçã, António Borges é o Grilo Falante de Passos Coelho. Sim, desse senhor considerado por muitos o Primeiro Ministro de Portugal. Esta analogia de Louçã além de cómica é ainda, na opinião de alguns sábios, muito acertada. Se tivermos em conta o filme da Disney sobre esse personagem de nome Pinóquio, encontramos efectivamente muitas semelhanças com o panorama político em Portugal. Temos um Grilo Falante, aquele personagem irritante que teima em aparecer em certos momentos da estória para explicar algo, lançar o caos e acelerar o rumo dos acontecimentos. Precisamente o que faz António Borges. Contudo, acusar António Borges de ser o Grilo Falante implica uma imediata analogia entre Passos Coelho e o Pinóquio. E aqui está uma crítica implícita a todos os ex-Primeiros-Ministros que tivemos nos últimos tempos. A Pinóquio crescia o nariz sempre que mentia; sempre que os Primeiros-Ministros nos mentem, cresce a dívida pública. Coincidências? Talvez não. Temos um Gepeto, de nome Ângelo Correia, o seu criador, padrinho, o homem que sonhava em ter um filho com cara de pau. O enredo inicia-se com a entrada em cena da Fada Azul, que dá vida ao “projecto Pinóquio”. Papel que na vida real assenta muito bem em Fernando Ruas, cujo toque mágico “acende as luzes da ribalta”. João Honesto e Gideão, dois personagens que se aproximam interessadamente de Pinóquio com o intuito de o “vender”, poderão muito bem ser representações de Paulo Portas. As duas. Representações de alguém que tem uma atração irresistível pelo poder, sendo capaz de tudo para lá chegar. E, tal como na estória, por momentos consegue os seus intentos. A Miguel Relvas está reservada a personagem de nome Espuleta. O grande amigo de Pinóquio, mal-criado, que ri de todas as formas de autoridade, preferindo actividades menos honestas. Enquadramento quase real.  Cavaco Silva é o Cocheiro, o homem que seduz Pinóquio a partir para a Ilha dos Prazeres, também conhecido por Palácio de S. Bento. E, como todas as estórias que servem para transmitir um ensinamento, também aqui temos um monstro, a face visível do Mal. O Monstro que é a dívida pública, que suga tudo para o seu interior, destruindo quem lhe faz frente. A vida real não é um conto de fadas… mas que às vezes parece, lá isso parece.
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sexta-feira, 1 de junho de 2012

Deslocados…

A ONU prevê num dos seus habituais relatórios que o número de deslocados continue a aumentar nos próximos dez anos. As previsões não têm por base o continente africado ou asiático. Baseiam-se, essencialmente, no continente europeu e, mais especificamente, no caso português. Acham os técnicos responsáveis pelo estudo elaborado que continuará a aumentar a emigração e a fuga clandestina para outros estados. E entende-se perfeitamente que tenham chegado a tal conclusão sem precisar de grandes dados. Da maneira como está a economia de Portugal, é mais que evidente que muitos portugueses queiram relembrar o tempo dos Descobrimentos. Em vez de Feiras Medievais, festejamos as grandes expedições marítimas. Portugueses que trocarão as suas vidas miseráveis no país onde nasceram e que procuram uma qualquer palhota com todas as condições necessárias à razoável sobrevivência humana num qualquer recanto perdido do continente africano, bem mais evoluído que o país do Fado. Não fosse já suficiente toda a envolvência económica do estado, ainda temos governantes que incentivam uma verdadeira “infestação” lusitana ao planeta Terra. “Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra”. Esta é a versão do Génesis, essa malta que fundou uma banda. A versão Passos Coelho é ligeiramente diferente: crescer, multiplicar, encher e espalhar pela terra… mas sempre fora de Portugal. Espalhem-se… para longe. No fundo, somos governados por mais um profeta. E no dia da criança será importante meditar sobre isso. Que as próximas gerações tenham mais sorte que a nossa. E por “mais sorte” entenda-se “que o Governo pague os bilhetes de avião quando nos mandam embora”. Já tinham colocado um português como Alto Comissário para os refugiados na ONU e deveríamos ter suspeitado de tal nomeação. Agora, as coisas vão fazendo sentido. Entre refugiados e deslocados, lá estaremos nós na linha da frente. Mais preocupante é que esta previsão tem como espaço temporal dez anos. O que quererá dizer que a crise se manterá até 2022. Até lá, não deveremos fazer grandes projetos de vida. Sobretudo, os que incluam estadias mais ou menos prolongadas no território nacional. Um dia, quando menos esperarmos, poderemos ser nós os próximos convidados a sair. Não percam a esperança. Os relatórios da ONU costumam ser acertados e rigorosos…
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