quarta-feira, 23 de maio de 2012

Invocações…

Falar de outras pessoas é algo perfeitamente normal no comportamento humano, sobretudo nos latinos. Falar mal de outras pessoas, então, é o pão nosso de cada dia. Mas estas coisas são inevitáveis. Por muito que alguém se esforce por não comentar certa e determinada pessoa, é quase garantido que mais tarde ou mais cedo o fará. E tal facto por vezes tem de ser entendido até como uma clara demonstração de inteligência e imaginação dada a quantidade exorbitante de elementos fictícios que se vão acrescentando à história. É um bom exercício para revitalizar o cérebro. E quando nessas histórias vemos colocado o cunho profissional da comunicação social temos algo bombástico. Mas, como refiro, tudo isto é uma questão natural e cultural. O alheio, a curiosidade e o mistério são elementos muito sedutores. E escrevi tudo isto apenas para justificar o interesse humano no que o rodeia. E é neste contexto que surge a notícia (escandalosa, por sinal) de que o nosso querido e estimado ex-Primeiro-Ministro e quase engenheiro Sócrates ameaça processar todos aqueles que invocarem o seu nome. Se for para criticar de forma muito negativa, claro está. E aqui nos é apresentada outra faceta de Sócrates que até agora desconhecia: o lado divino. À semelhança do que acontece com o Criador, Sócrates não admite que invoquem em vão o seu abençoado nome. Que é um ser inatingível já todos tínhamos reparado. Que possui uma sapiência e uma reputação intocáveis é que são elementos novos. Mas o ser humano está sempre a aprender. Essa é a beleza da vida. Contudo, e apesar de até ser agradável saber que o quase engenheiro continua a falar com tanta veemência, toda essa estratégia de intimidação não passará do mais puro bluff. Processar os difamadores é uma actividade engraçada, uma boa forma de ocupar o tempo e entreter os tribunais com questões menores mas este senhor deve querer tudo menos entrar em tribunais nos próximos anos. Por uma questão de superstição… Quanto mais longe do tribunal, melhor. Fica só a ameaça para amedrontar alguma alma mais distraída. Até porque processar alguém por invocar o nome em vão levanta outras questões mais profundas. Tendo por base um mandamento, teria de se invocar o direito canónico certamente. E para alguém com tantas mentiras no currículo, isso seria um procedimento muito perigoso. O que retiro desta história é apenas o seguinte: dizem que Sócrates teve muita dificuldade em Inglês Técnico, que o projecto final não era seu e agora ainda se diverte a plagiar mandamentos. Um caminho arriscado.

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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Mais inchado…

Segundo uma notícia publicada hoje no Jornal de Notícias, Portugal cresceu 122 klm nos últimos quatro anos. Neste preciso momento em que carrego nas teclas do computador, a área total do nosso país cifra-se em 92 212 klm2, distribuídos da seguinte forma: Continente – 89 088,92 klm2; Açores – 2 321,96 klm2; e Madeira – 801,12 klm2. Facto que é extremamente curioso. Em tempo de crise, segundo a lógica da batata, tudo deveria diminuir. O próprio território nacional deveria estar envergonhado com tudo o que se passa por cá e deveria encolher-se para se tentar esconder do poder paterno-disciplinar da Troika. Mas, em vez disso, ele expande-se, aumentando a fonte de despesa e chamando a atenção do mundo para este canto à beira-mar situado.O que até causa um grande transtorno aos nossos governantes. Queremos tanto passar despercebidos aos olhares curiosos e incisivos dos nossos credores e o raio do país teima em querer aparecer um pouco maior no mapa-mundo. Faz lembrar os bons e velhos filmes de comédia em que alguém se tenta esconder atrás de uma cortina mas esquecendo-se que os seus pés estão mais do que visíveis. Parece-me que a própria superfície do país está a congeminar um diabólico plano de perseguição aos portugueses. É bem verdade que sempre que tentamos esconder algo, essa coisa inevitavelmente nos acaba por perseguir e atormentar o nosso dia-a-dia, os nossos pensamentos. A superfície do país deveria estar reduzida a 75%. Não nos podemos esquecer do buraco que se formou na Madeira nos últimos anos. Porém, o raio do país aumentou! Com um buraco sempre a aumentar, seria de pensar que a área do país diminuísse. Engano nosso. Ao contrário da maior parte dos buracos negros que por aí existe e que suga tudo à volta para o seu interior e fazendo tudo desaparecer, o buraco da Madeira é tão profundo que tem o efeito contrário: traz toda a matéria oculta do seu interior cá para fora, à boa maneira vulcânica, o que origina terras férteis e cultiváveis já que os terrenos com mais “porcaria” são mais ricos e propensos à agricultura. Para a agricultura e para a criação de gado. Basta ver que mal sai uma notícia fora do país dizendo que Portugal ganhou alguma coisa, aparece logo uma quantidade exorbitante de “ruminantes financeiros nómadas” por aí. Sejamos positivos: neste momento estamos entalados entre a Espanha e o Atlântico. Pode ser que daqui por uns anos já estejamos ligados aos Estados Unidos ou ao Brasil.

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domingo, 13 de maio de 2012

Indignações à Rasca…

E num belo dia de Maio do ano da graça do senhor de 2012, voltam os indignados a ocupar as Portas do Sol em Madrid. E notícias como esta também me deixam indignado com a dualidade de tratamentos tão abissal entre dois países praticamente “hermanos” e de cultura muito semelhante. Senão vejamos: em Espanha, um grupo de jovens que se junte numa manifestação pública contra as políticas do seu país, contra a situação sócio-económica a que chegaram e contra as dificuldades em arranjar emprego, é apelidado como “Indignados”. Um nome muito sugestivo, que inspira a revolta, a luta, a credibilidade no movimento. Em Portugal, um grupo de jovens que se junte numa manifestação pública contra as políticas do seu país, contra a situação sócio-económica a que chegaram e contra as dificuldades em arranjar emprego, é apelidado de Geração à Rasca ou Geração dos Recibos Verdes. Só a denominação do movimento implica um fracasso à nascença. E fico indignado por chamarem “Indignados” ao movimento espanhol e “À Rasca” ao nosso. Será que os espanhóis se indignam mais que os portugueses? Prece que basta saltar a fronteira entre os dois países para que tudo se altere. Nós, que aqui somos tratados como coitadinhos, mal colocamos o pé em Espanha ganhamos super poderes e começamos a ser apelidados por “El Indignado!”. Mas se voltarmos a casa porque nos esquecemos de dar de comer ao peixinho dourado, já voltamos a ser uns desgraçados à rasca. Nós é que deveríamos ser apelidados de indignados, de revoltados, porque toda a gente sabe que é bem mais fácil estar indignado em Espanha. Eles têm subsídios de desemprego com valores mais elevados, tem largadas de touros nas ruas, tem os locais mais apetecíveis para as viagens de finalistas, tem o Mourinho, o Cristiano Ronaldo, o Barcelona, a Irina e, mais importante de tudo, têm um rei enquanto que nós apenas temos um duque. Aqui é bem mais complicado. Mostrarmos a indignação é praticamente impossível quando se tem de estar preso horas e horas nos centros de emprego, nas repartições da segurança social, das finanças… Desta forma, claro que teremos de andar à rasca. De dinheiro e, sobretudo, de tempo. Mas como lá diz o povo, “tempo é dinheiro”. Por isso, é tudo a mesma coisa.

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sexta-feira, 4 de maio de 2012

Os dissidentes…

A China acaba de abrir a porta de saída a um dissidente para que este possa estudar fora do país. O governo chinês, muito conhecido pelo excelente tratamento com que brinda os seus opositores, resolve mostrar ao mundo mais uma prova da sua boa vontade, inscrevendo o famoso e quiçá único dissidente numa espécie de programa Erasmus. E o que levará a China a permitir a saída desse “fulano” para o estrangeiro, quando poderia perfeitamente terminar uma licenciatura na China? Sim, porque na China também existem universidades e não apenas lojas de conveniência e restaurantes. Bom, é que para acabar o curso, o dissidente precisaria com certeza de fazer a cadeira de Direitos Fundamentais, que é cadeira não lecionada no país da Grande Muralha. Mas esta boa vontade demonstrada pelo governo chinês não é nada de muito especial. Em Portugal também o fazemos e com muito mais requinte. Tivemos um “dissidente” que governou o país durante anos a fio, que trouxe a bancarrota consigo e no final ainda permitimos que ele tenha viajado tranquilamente para Paris para estudar. Poderá finalmente o “quase engenheiro” Sócrates terminar uma licenciatura sem ser ao fim de semana. E nestas demonstrações de afecto e respeito pelo ser humano, nós portugueses somos bem mais incisivos que a República Popular da China. Uma questão de cavalheirismo. Temos quem nos desgrace o país e como castigo permitimos que o bandido se exile em França a estudar, para que um dia consiga perceber em que estado deixou a nação. Somos uns fofos. Mas o caso do engenheiro não é pioneiro. Já antes deixamos sair um tal de Vale e Azevedo para Londres, onde tem passado os anos a estudar a “arte de bem enganar e ridicularizar os portugueses”. No caso deste senhor, já estamos na presença de um mestrado após várias pós-graduações. E a este também já ninguém o agarra. Fica a pergunta: Podemos responsabilizar as famílias destes senhores pelas consecutivas faltas que eles tiveram com a nação? À boa maneira do ensino obrigatório. A China pode ser uma das maiores potências económicas do mundo actual mas no que diz respeito ao nível de desenvolvimento da falta de vergonha, Portugal está muito mais evoluído graças à prática registada ao longo dos séculos. Basta ver que enquanto a China se divertia a construir muralhas e a fechar o país, nós preferimos partir para a Reconquista e depois para os Descobrimentos, de forma a deixarmos fugir mais uns bandidos. Já é uma questão cultural, de identidade. Dizem que somos hospitaleiros mas a maior prova de hospitalidade é a dos chineses: recebem as pessoas e fazem de tudo para que não possam fugir. Literalmente.

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