Uma pessoa apercebe-se de que a idade vai avançando quando não se constipa a correr à chuva e ao frio mas é implacavelmente derrubada por um simples ar condicionado que nos deixa de cama uns dias. Ainda para mais numa altura em que a gripe das aves volta a estar na moda. Ainda nos confundem com um peru bêbado engripado e somos abatidos impiedosamente. E é muito triste estar engripado. Dá para pensar bem na qualidade do material de que somos feitos quando observamos a quantidade de porcaria que nos teima em sair pelo nariz. Não é uma imagem bonita, é verdade. Mas a gripe é como a morte: por muito que se previna e se acautele, ela acaba sempre por aparecer e levar a melhor. Uma bela comparação natalícia. Aposto que já muita gente passou por esta situação: estar com gripe, na cama, e alguém chega lá com um chã quente e diz:”Bebe isto que te faz bem à gripe”. E esta frase dá para pensar porque não faz sentido absolutamente nenhum. Não que tenha algo contra chãs e tratamentos de rei deitado na cama, mas porque é parvo dar um “tratamento” a alguém dizendo que lhe faz bem à doença. Eu não quero nada que faça bem à gripe. Quero é algo que lhe faça mal. Que a torture; que a incomode tal como ela me incomoda e que no fim e extermine. Não quero que a gripe seja bem tratada. Se algo faz bem à gripe então eu não quero. Prefiro que ela agonie. Da próxima vez que tentarem agradar a um doente, não lhe digam que o que lhe estão a dar lhe faz bem à maleita. A intenção é boa. Mas como lá diz o povo, de boas intenções está o inferno cheio. E o inferno acaba por ser como o ar condicionado: é muito agradável enquanto sentimos aquele calor, mas quando saímos de lá ficamos com gripe…
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