Quando se ganha o mau hábito de se ficar acordado até tarde, é completamente normal que o cérebro comece a divagar por coisas parvas. E uma delas será, certamente, ver as televendas. Mas uma coisa é certa: quem nunca perdeu tempo a ver um mínimo de cinco minutos de televendas nunca poderá ser uma pessoa realizada. As televendas são uma espécie de mundo da fantasia para os adultos. Mas fantasias que não são XXX. Ver as televendas é como ler histórias da carochinha: começamos a acreditar que tudo é realmente possível e que no final fica sempre tudo bem. Esfregonas mágicas, panelas que cozinham sozinhas, aparelhos de exercício abdominal que nos transformam em modelos sem precisarmos de deixar comer fast-food, ou spray milagroso de crescimento capilar capaz de tornar o Pedro Abrunhosa no Marco Paulo dos bons e velhos tempos. Há de tudo, mais ainda que na farmácia. E como tudo nesta vida se baseia em hierarquias, no topo da hierarquia comercial estará, indubitavelmente, a esfregona mágica. Com uma coisa dessas na mão, tornamo-nos um verdadeiro Harry Potter. Nunca fui grande adepto desse tipo de utensílios mas a verdade é que ela é capaz de fazer desaparecer qualquer coisa. Uma simples passagem da esfregona é capaz de exterminar qualquer substância indesejada. Assim, de forma muito simples, sem precisarmos de cantarolar qualquer tipo de feitiço. Tenho a certeza de que se a usassem na Assembleia da República, muitas das parvoíces que lá se dizem diariamente deixariam de acontecer. Passem a esfregona sobre o défice e vão ver como ele desaparece. Aconselharia toda a gente a passar a esfregona no corpo e já não precisavam do tradicional banho, dado que a sujidade é atraída pela esfregona. O problema é que, se a sujidade é atraída, então muitas pessoas ficariam coladas eternamente à esfregona. E a coitada não tem culpa de nada. Se este país ainda tem solução, ela encontrar-se-á nas televendas. E se repararmos bem, as televendas são uma espécie de Assembleia da República: um grupo de pessoas bem-vestidas que nos conta histórias da carochinha enquanto nos tenta assaltar os bolsos, utilizando infinitos tempos de antena.
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