sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Vinicultura não deixa de ser cultura...

Uma semana depois de ter anunciado um conjunto de medidas que nos tornará no povo mais pobre e triste da União Europeia em simultâneo com um jogo do Benfica, José Sócrates volta a surpreender todos os politólogos. Este homem é das pessoas mais surpreendentes e imprevisíveis a nível mundial. Questionado sobre as previsões do FMI de uma futura recessão em Portugal, o nosso Primeiro-Ministro resolveu ignorar esse tema e tratou de realçar o papel económico do vinho. Desta vez tenho de admitir que o Sócrates deu uma goleada ao FMI. Digamos que prever uma recessão económica para Portugal não é nada de extraordinário nem de elevado grau de dificuldade. Nem era preciso ler nas entranhas de um animal. Qualquer bola de cristal comprada nos chineses revelaria essa situação. Curiosamente, a reputação do FMI varia muito perigosamente consoante as previsões: quando são más, o nosso Primeiro-Ministro ignora-as; quando são boas, Sócrates não poupa elogios ao trabalho do seu Governo e às rigorosas previsões do FMI. Compreendo. Eu também gosto mais de elogios que de críticas acentuadas. Mas eu não sou Primeiro-Ministro. Mas realçar o papel do vinho na economia é um verdadeiro golpe de génio capaz de "abafar" as previsões do FMI. Os portugueses sempre suspeitaram das capacidades "milagreiras" do vinho para a economia e é por isso que desde sempre nutriram um especial carinho por tal bebida. Já Jesus Cristo atribuíra especial importância ao vinho ao equivaler o seu sangue ao vinho e não à água, por exemplo. E com razão. Pão e água fazem inchar bastante o estômago, enquanto que o vinho até faz aquecer os pés. Voltando à questão, Sócrates defende que o vinho pode ser importante para uma recuperação da economia e realça o bom trabalho das produções vinícolas. A crise nunca assolará completamente o país enquanto houver vinho que nos proteja. É fácil de ver porque é que o vinho interfere na economia: todos aqueles que bebem vinho sem moderação ficam soltos de quaisquer complexos financeiros e desatam a investir, nomeadamente em mais vinho. E o que este país precisa é de investimento. Troque-se o Hemiciclo por uma qualquer plantação vinícola do Douro; troquem-se os impostos por pipas e tonéis. O país pode não ficar melhor mas ao menos deixará de se preocupar com a crise. O cheiro a vinho deixaria de ser um indicativo de saloios e passaria a ser sinal de riqueza e prosperidade. Entreguemo-nos ao vinho de corpo e alma e felicidade não nos faltará. Nem cirroses. Os abstémios serão acusados de acentuarem a crise. E os alcoólicos anónimos serão considerados um grupo hostil face aos princípios fundamentais do Estado de Direito. E assim lá vamos nós, de copo em copo, com um enólogo à frente do destino do país.

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