Um estudo revela que mais de metade dos portugueses tem falta de sono. O que se compreende facilmente. Diz-se que “em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. Ora, conseguir adormecer numa casa onde todos discutem é tarefa hercúlea. Tentar descansar num país onde toda a gente se lamenta é bem mais complicado do que realmente parece. Para agravar toda esta problemática conjuntura nacional sobre o sono, ainda nos deparamos com uma seca tremenda. Não chove nem pinga. Absolutamente nada. E o português é um povo que aprecia adormecer a ouvir a chuva cair. Mal caiem os primeiros pingos, grande parte da população portuguesa refastela-se comodamente no seu leito, aguardando ser vencido pelo Vitinho que o derruba em apenas um golpe. Sem precipitação é mais difícil. Ser português é uma bênção amaldiçoada. Dificultam-nos a vida e complicam-nos o sono. Lusitanos em estado normal já tiram um santo do sério; com insónias, nem uma chupeta os cala. Nem tudo é mau, no entanto. Ficamos a saber que, apesar de todas as contrariedades e vicissitudes da sociedade portuguesa, ainda há uma grande percentagem de pessoas a quem as insónias não lhe assistem. Não se pense que essas pessoas não sentem os efeitos da crise, que se tornam insensíveis ao sofrimento alheio. Nada disso. Bem pelo contrário. Muitas vezes até são essas pessoas que sofrem mais directamente com os ataques da Troika mas a tranquilidade do sono já lhes é algo intrínseco e inevitável depois de anos e anos a aprimorarem geneticamente esta especificidade. Os seus genes já estão mais do que preparados para deixar a pessoa num estado sonolento quando se encontram em determinados locais, nomeadamente os locais de trabalho. Reunida toda essa panóplia de factos conjunturais, os genes levam a pessoa a hibernar, um descanso sossegado e quase que tranquilo. Essa percentagem de pessoas de que falo, geneticamente modificados e preparados para descansar até nos ambientes mais inflamados, é a percentagem de funcionários públicos deste país. Eles até se querem revoltar mas o seu estado meloso não propicia as manifestações.
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