sexta-feira, 30 de março de 2012

Neo-descobrimentos...

Primeiro chegou a crise. Com a crise, chegaram os discursos e incentivos a viagens de longa estadia aos jovens recém-licenciados. E agora surge Bruxelas a dar mais um empurrão aos jovens para fora deste país. A partir de hoje, as chamadas em serviço roaming acabam por ficar mais baratas. A Comissão Europeia seduz os jovens com chamadas mais baratas para o país de origem. No fundo, mais não fazem do que dizer aos portugueses que podem ir embora porque poderão ligar à vontade para falar com a mãezinha e o paizinho. E aqui se inicia uma nova etapa de Descobrimentos para Portugal. Cinco séculos depois, os portugueses voltarão a ser lançados ao mundo depois do apelo do "grande chefe". Já não é um rei a ordenar-nos que partamos em busca da glória e de novos mundos para Portugal. Actualmente, as ordens de partida não servem propósitos tão nobres e são proferidas por pessoas que deixaram de ter sangue azul e passaram a interessar-se por sacos azuis que são, no fundo, os objectos de maior poder da actualidade. A procura da glória para a nação foi substituída por um simples "Não estão bem aqui, ponham-se a andar!". Podem dizer de tudo sobre os portugueses, que somos preguiçosos, que não gostamos de trabalhar e pagar impostos, mas não podem dizer que somos mimados. Em vez de sairmos do país em naus luxuosas e incentivados pelas multidões que acenavam à partida, somos corridos com um verdadeiro pontapé na parte do corpo sobre a qual nos sentamos. Não é tão digno mas, muito provavelmente, viajaremos mais depressa. Em 1500, os portugueses corriam o mundo e traziam escravos para trabalhar. Hoje, os portugueses correm o mundo para se fazerem escravos de outros. Não há canto da sereia que nos seduza a viajar para encontrá-las; em sua vez, temos o embalo de Vítor Gaspar, cuja melodia suave e serena nos embala nos seus ideais mais obscuros.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Geneticamente modificados…

Um estudo revela que mais de metade dos portugueses tem falta de sono. O que se compreende facilmente. Diz-se que “em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. Ora, conseguir adormecer numa casa onde todos discutem é tarefa hercúlea. Tentar descansar num país onde toda a gente se lamenta é bem mais complicado do que realmente parece. Para agravar toda esta problemática conjuntura nacional sobre o sono, ainda nos deparamos com uma seca tremenda. Não chove nem pinga. Absolutamente nada. E o português é um povo que aprecia adormecer a ouvir a chuva cair. Mal caiem os primeiros pingos, grande parte da população portuguesa refastela-se comodamente no seu leito, aguardando ser vencido pelo Vitinho que o derruba em apenas um golpe. Sem precipitação é mais difícil. Ser português é uma bênção amaldiçoada. Dificultam-nos a vida e complicam-nos o sono. Lusitanos em estado normal já tiram um santo do sério; com insónias, nem uma chupeta os cala. Nem tudo é mau, no entanto. Ficamos a saber que, apesar de todas as contrariedades e vicissitudes da sociedade portuguesa, ainda há uma grande percentagem de pessoas a quem as insónias não lhe assistem. Não se pense que essas pessoas não sentem os efeitos da crise, que se tornam insensíveis ao sofrimento alheio. Nada disso. Bem pelo contrário. Muitas vezes até são essas pessoas que sofrem mais directamente com os ataques da Troika mas a tranquilidade do sono já lhes é algo intrínseco e inevitável depois de anos e anos a aprimorarem geneticamente esta especificidade. Os seus genes já estão mais do que preparados para deixar a pessoa num estado sonolento quando se encontram em determinados locais, nomeadamente os locais de trabalho. Reunida toda essa panóplia de factos conjunturais, os genes levam a pessoa a hibernar, um descanso sossegado e quase que tranquilo. Essa percentagem de pessoas de que falo, geneticamente modificados e preparados para descansar até nos ambientes mais inflamados, é a percentagem de funcionários públicos deste país. Eles até se querem revoltar mas o seu estado meloso não propicia as manifestações.

insónia

terça-feira, 27 de março de 2012

A ironia dos “finalistas”…

As viagens de finalistas costumam ser os momentos mais esperados por todos os estudantes. São anos à espera daquela maravilhosa semana em que nos afastamos de casa e nos sentimos pela primeira vez uns semi-adultos. Contudo, os acidentes ocorridos nos últimos anos com a juventude que decide viajar para Espanha deixa-me a pensar sobre o verdadeiro propósito das viagens e sobre a evolução do conceito de divertimento. Mais um jovem português que resolve mandar-se de uma varanda abaixo. Já se sabe que de Espanha não vêm bons ventos nem bons casamentos. Era já um aviso deixado à juventude deste país. Mas, mesmo assim, insistem. De Espanha não vêm casamentos; infelizmente, pelo contrário e cada vez de forma mais acentuada, surgem funerais. E tudo isso porque a canalhada de hoje em dia que só vê “Morangos com açúcar” não sabe como se divertir. Pior que isso: não aguentam a pedalada do álcool e das drogas. Na minha viagem de finalistas também houve malta a beber e a fumar droga. Porém, preferiam não saltar das varandas. Esta juventude tem uma formação a língua portuguesa tão má que não conseguem perceber que quando o anúncio diz que “a Red Bull dá-te asas!” estão a falar apenas em sentido figurado. E lançar-se da varanda não é uma boa forma de comprovar a veracidade desse slogan. Se bem que eles até acabam por ganhar asas… pois dizem que os anjos têm asas… Que se embebedem, acho muito bem; que queiram fumar droga, é lá com eles. Mas que não se armem em Super-homens se não conseguem aguentar essas substâncias. É a idade da parvalheira. Ainda sou do tempo em que aproveitávamos esses momentos de farra e deboche com álcool para brincadeiras menos honestas e católicas, o famoso “Verdade ou Consequência”. As meninas estavam mais soltas, longe da repressão dos pais e ansiosas por soltar a franga. E nós, rapazes, não íamos para a varanda. Actualmente, elas continuam soltas, apesar de se soltarem mais cedo; continuam a querer farras; a diferença é que os “panões” dos rapazes estão habituados já a tantas facilidades que não dão valor e decidem ir para a varanda arejar. E depois, pimba! Estragam a vida dos familiares e a viagem aos amigos. Vão ter de colocar gaiolas nas varandas espanholas. À boa maneira chinesa.

red bull

sexta-feira, 16 de março de 2012

Marketing…

Dar o nome a uma marca de vinhos é uma tarefa bem mais complicada do que possa parecer à primeira vista. É certo que o hábito não faz o monge mas um monge que pareça um maltrapilho nunca será levado a sério. E nessa terra historicamente ligada a gente boa de nome Santa Comba Dão resolveram atribuir o nome de “Memórias de Salazar” a uma marca de vinhos. Uma homenagem a esse grande alcoólico mas pessoa sensível e preocupada com o bem-estar alheio. Salazar, o Altruísta! Acho que ficava melhor. Mas dar o nome de Salazar não é uma ideia de todo descabida, já que estamos a falar do maior português de todos os tempos. E nós portugueses temos um sentido de humor bastante peculiar. E se os outros países seguissem o nosso exemplo? Já estou a imaginar os alemães a darem o nome de Hitler a uma marca de cinzeiros. Ou então, de uma forma bem mais “original”, darem o nome desse senhor de bigode a uma marca de bilhas de gás. “O gás de Hitler”… Muito apelativo. Ou, porque não, atribuir o nome de Hitler a um novo modelo de chuveiros. Os italianos a darem o nome de Mussolini a uma marca de camisas pretas, muito bonitas e elegantes. Não consigo imaginar os espanhóis a dar o nome Franco a uma editora de livros infantis mas já consigo vislumbrar os russos a chamarem Estaline a uma empresa de espelhos. Esses países sentem uma tímida vergonha dos seus fascistas mas em Portugal não há cá dessas frescuras. Sentimos orgulho pelo nosso fofinho fascista, que Deus o guarde e não o obrigue a sentar-se ao Seu pé já que não se dá muito bem com cadeiras. E aprecio ver o autarca de Santa Comba Dão dizer que Salazar já faleceu em 1970 e que é altura de os portugueses ultrapassarem esses fantasmas e esses traumas, e que o nome Salazar é bastante apelativo. Engraçado. Isso significa que ao fim de alguns anos a reputação dos fascistas passa a ficar incólume? Muito bem. Já passaram 42 anos e já o devemos perdoar. Tão bonzinho. Toca a dar o nome de Salazar a uma agência de viagens para o Tarrafal então. E convidar determinados portugueses para a estrearem…

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