Em plena seca extrema em Portugal, quer meteorológica quer financeira, surge na Assembleia da República um debate sobre o género de água que deverá ser consumida pelos nossos majestosos e delicados deputados no local de trabalho. Defende o deputado socialista Pedro Farmouse (apelido bastante exótico e moderno… parece nome de um jogo do Facebook) que os deputados passem a beber água da torneira em vez de consumirem água engarrafada. E esta é uma questão de relevante interesse nacional e que também deveria ser debatida nas reuniões com a Troika. Um estudo elaborado pelo Conselho de Administração concluiu que a água da torneira ficaria 30 vezes mais cara que a água engarrafada. Isso tudo tendo em conta os valores envolvidos com o custo do pessoal para transporte da água e com o vasilhame. Conclusão que levanta algumas questões de difícil resposta. Serão as canalizações da Assembleia da República revestidas a ouro maciço? A água que sai daquelas torneiras vem directamente de alguma nascente das Smokey Mountains? E porque é que tem de haver custos com o pessoal? Não podem os deputados levantar o cu dos cadeirões para ir buscar água e café, como toda a gente normal faz? Talvez os gastos não fossem tão exorbitantes. Mas não haver distribuição de água e café é considerado um absurdo. Ficariam os deputados sem condições para trabalhar. Seria difícil aguentar tantas horas de trabalho duríssimo se tivessem de se levantar. E toda a gente sabe que um deputado cansado é como um cavalo de pata partida: mais vale abater porque não renderá nada. Num momento em que grande parte dos portugueses já nem dinheiro tem para um simples café, o que verdadeiramente incomoda os deputados é terem de se levantar e tirar o próprio café que, inclusivamente, até é pago com os nossos impostos. Acredito piamente que até garrafas de aguardente tenham para quem prefere um “cheirinho”. Ficaremos ao menos com a satisfação de saber que, apesar dessas extravagâncias de milionários, a verdade é que o trabalho deles aparece feito e bem feito. Ou talvez não. Servirá então de consolo observarmos que temos deputados que sabem apreciar verdadeiramente uma garrafa de água e o reconfortante aroma do café. Uma boa lei é elaborada entre um gole de água e um trago de café. É um direito que lhes é assistido constitucionalmente. Até porque obrigá-los a servirem-se de água e café só serviria para levar ao despedimento dos vários funcionários públicos especializados em tirar cafés e entregar águas. E já chega de desemprego.
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