Há pessoas que quanto mais tentam encontrar um discurso fluente e acessível a todos, mais complicam e dificultam a capacidade de entendimento do receptor. A palavra não passa, os ouvintes ficam entediados e a mensagem cai no ridículo. E quando se tenta corrigir a mensagem, inevitavelmente as coisas costumam sair bem pior. Já toda a gente “espancou” verbalmente Aníbal Cavaco Silva pelas suas declarações sobre os míseros euros que recebe de reformas. Foi um alvo fácil. E foram críticas exageradas a alguém que se limitou a praticar a bela tradição lusitana do “choradinho”. Enquanto portugueses, podemos ganhar o Euromilhões que mesmo assim vamos dizer que não temos a certeza se esse dinheiro dará para enfrentar as despesas do dia-a-dia. Claro que a ter de pagar a motoristas, a andar sempre em automóveis muito pouco baratos e a manter variados palácios, é normal que o dinheiro não chegue. Mesmo contando com a ajuda dos velhos amigos de bancos privados que ajudam na “aquisição” de habitações. Essa ajuda será sempre insuficiente. Mas o mais engraçado nesta trapalhada toda do Senhor Aníbal é o facto de vir agora dizer que não foi “suficientemente claro” na questão das reformas. Não foi “suficientemente claro” mas toda a gente percebeu onde quis chegar. Ou seja, é nas alturas em que Cavaco Silva demonstra mais dificuldades de expressão que os portugueses melhor o entendem. Já quando demonstra grande clareza na emissão da mensagem, ninguém percebe patavina do que ele está a dizer. Basta recordar dois episódios de duas célebres intervenções de Sr. Presidente da República em horário nobre: a questão dos estatutos dos Açores e a famosa questão das escutas. Até hoje ninguém percebeu o que aquele homem quis dizer. E foi “suficientemente claro”, com discurso pensado e previamente preparado. Desta vez, sem discurso programado, não foi “suficientemente claro” mas toda a gente percebeu na hora. Quando diz o que lhe vai na alma (e na carteira!) torna-se bem mais simples compreender.
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