A crise é uma coisa que a nós portugueses, infeliz e inevitavelmente, nos assiste e com demasiada frequência. Parece uma daquelas nódoas chatas que nos mancha a camisa e que teima em se manter visível a toda a gente. E não há detergente que a leve. Contudo, a cada intervenção do Primeiro-ministro ou do Ministro das Finanças, as coisas parecem ficar cada vez mais negras. E é aqui que sentimos a primeira (e talvez a única) grande diferença entre Passos Coelho e Sócrates: Sócrates fazia-nos crer que a crise tinha sido ultrapassada enquanto nos assaltava a carteira; Passos Coelho leva-nos logo a carteira ainda antes de falar e depois arranca-nos do mundo dos sonhos em que somos deixados sempre que o Ministro das Finanças fala com aquele tom e pausas de quem está a ver um jogo da Selecção. A verdade é uma e inquestionável: a Troika exige-nos esforços e o Governo teima em fazer muito mais do aquilo que foi recomendado. Podiamos ser violentados com um soco de cada vez mas o Governo acha por bem que a cada soco corresponda também um pontapé e uma cabeçada. Só para que o sofrimento seja mais visível. Esta teimosia do Governo em fazer mais do que aquilo que foi recomendado pela Troika faz-me lembrar todas aquelas pessoas que ao mínimo indício de constipação resolvem logo tomar anti-bióticos. Ao primeiro espirro, bombardeiam o corpo com medicamentos, exagerando no tratamento. E, como é óbvio, quando o corpo precisa realmente desses medicamentos, eles já não produzem efeitos. E é precisamente isso que acontecerá com estas medidas: estão a bombardear-nos com cortes e impostos e quando precisarem de um mínimo de investimento na economia, as pessoas já nada terão para investir. Vamos tornar-nos imunes ao investimento, o que significa que cada português passará a ter apenas um telemóvel (o que é escandaloso). Assim não há povo que aguente. Todos os dias “visitam” os nossos bolsos sem serem convidados para tal. Nem sei como me vou governar sem subsídio de férias e de natal…
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