sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

E tu, já encontraste um idoso hoje?

Tudo o que se passa neste planeta se resume a uma questão de modas. As variações das preferências do ser humano determinam o respectivo desenvolvimento da sociedade em questão. Em Portugal, por exemplo, variamos constantemente no tipo de jogos sociais mais apreciados. Os tradicionais Monopólio e Pictionary foram sendo substituídos por outro género muito apreciado: Bullying. De um momento para o outro, todas as crianças em Portugal participavam neste jogo. Uns do lado activo, outros do lado passivo, claro está. Mas todos os jovens portugueses participavam, segundo as notícias inflamadas dos jornais. A moda, inevitavelmente, passou. Demorou a passar mas acabou por perder a piada. E como não podiam os portugueses estar muito tempo sem um passatempo divertido, eis que surge mais uma novidade ao nível lúdico que está a fazer grande sucesso entre toda a população. Depois de tanto termos procurado um jovem de nome Wally durante a infância, agora o jogo passa por encontrar idosos falecidos em casa, sozinhos ou com o animal de estimação por perto. Ganha quem encontrar mais idosos e o critério de desempate é o número de anos que o corpo do idoso esteve lá abandonado. Da noite para o dia, muitos idosos passaram a falecer teimosamente em sua casa apenas para que conseguissem ser notícia uma vez na vida. Há pessoas que fazem de tudo por cinco minutos de fama. Até agora, nenhum idoso falecia abandonado na sua própria casa. Nos últimos dias tem sido um fartote. Aquilo que antigamente era uma notícia triste e sobre a qual se deveria reflectir, agora é uma notícia fantástica e bombástica. Todos os dias aparecem títulos de jornais a dizer :"E aí está, mais um idoso encontrado morto". Parece algo espectacular. Um dia destes compramos uma casa com o respectivo recheio e deparamo-nos com um corpo no chão. Será que isso valorizará a casa se a quisermos vender no futuro? Vamos começar a ver anúncios nos classificados do género: "Vendo T2, mobilado, com vista para o mar. Em perfeito estado de conservação, pouca humidade, ideal para corpos abandonados. Inclui garagem e dois corpos ao fundo do corredor." Tanto sensacionalismo até faz ficar com a ideia de que os idosos estão a fazer de propósito para arruinarem com os empregos dos mediadores imobiliários e dos decoradores de interiores. Parecendo que não, um corpo de um idoso combina com muito pouca coisa. É difícil enquadrá-los na harmonia decorativa de qualquer divisão de uma casa. Até para a polícia é uma surpresa os idosos falecerem sozinhos em casa. Quando se vai à GNR fazer a participação do desaparecimento da Sra. Maria que já praticamente não pode andar, a última coisa que os agentes considerarão nos seus raciocínios é que ela possa estar falecida em casa. É mais fácil pensar que ela possa ter fugido de casa, onde, por acaso, mora sozinha. O chamado cúmulo da rebeldia.

2 comentários:

Retalhos de sonhos disse...

Humor negroooooooooooooooo Luís Correia!!!
Maldosamente bem escrito!
Confesso que vergonhosamente ri muito ao ler este post!
A tua mente distorcida e obscura assusta-me...

bjos saudosos***

S. Puga disse...

É incrivel como após, se nao me falha a memória,o caso da Senhora de Sinta imensos relatos de idosos falecidos em casa há anos vieram à baila.... Enche paginas de jornais, minutos do telejornal, mas esquecendo o humor negro que aqui utilizaste para falar desta situaçao.... é uma situaçao que nos devia preocupar a todos. Onde andavam a familia dessas pessoas? Porque viviam elas sozinhas sem ninguém dar pela falta delas?! É triste e preocupante, porque nós para lá caminhamos e nao sabemos o que o futuro nos reserva.
Estou a pensar seriamente escolher uma instituiçao e começar a fazer um mealheiro para quando chegar a altura ir para lá... Será que eles aceitam animais de estimaçao lá?