sábado, 5 de fevereiro de 2011

Se existe, está em Portugal...

Sincronismo. Mas o que é isso do sincronismo? Cientistas por todo o mundo têm tentado desvalorizar determinados acontecimentos que se verificaram neste planeta, dizendo que certas coincidências muito coincidentes não passam de, imagine-se, puras coincidências. Mas não é verdade. As puras coincidências escondem uma forte teoria, cimentada em observações rigorosas e isentas, como as do Banco de Portugal: a teoria do sincronismo. O exemplo clássico do sincronismo é o vôo de um bando de aves. Voam todas juntas, mudam de direcção em simultâneo e com um rigor extremo. Outro exemplo muito divulgado por esse mundo fora é o chamado efeito McClintock: um grupo de mulheres que trabalha no mesmo local durante um certo período de tempo tende a sincronizar o seu período menstrual. Nos homens também se passa algo parecido: depois de algum tempo a trabalharem juntos, os homens tendem a sincronizar os dias em que vão a boates e chegam bêbados a casa. É o efeito McPiela. Porém, e mesmo sendo confrontados com estes exemplos rigorosos e comprovados, alguns cientistas teimavam em desvalorizar o sincronismo. Mas esses mesmos cientistas não estavam preparados para o mais recente exemplo de sincronismo verificado em Portugal, e que tornará os mais cépticos nos mais crentes. Vamos aos factos: em Portugal, temos várias empresas de combustíveis e que são independentes entre si. Acontece que, de tempos em tempos, uma empresa decide aumentar o preço dos seus combustíveis em dois cêntimos no dia seguinte, por exemplo. Ora, qual não é o espanto dos gestores da empresa quando se deparam com um igual aumento do preço nas outras empresas e, coincidência das coincidências, também no mesmo dia. Como em Portugal temos uma total liberalização dos preços dos combustíveis, o normal seria que as empresas baixassem um pouco os preços para tirarem clientes umas às outras. Deveria uma empresa tomar a iniciativa de baixar o preço, o que levaria a que as outras empresas, quando reparassem que estavam a perder clientes, também baixassem os seus. A liberalização deveria consistir na descida dos preços de uma empresa, levando as outras a seguirem o seu exemplo posteriormente. Em Portugal, pelo contrário, consiste na subida dos preços e, mais engraçado, em simultâneo e em sintonia entre todas as empresas. A autoridade da concorrência não descortinou quaisquer características de mercantilização dos preços dos combustíveis. As evidências afinal não são assim tão evidentes. E se não há mercantilização, aquilo que se passa em Portugal é o mais puro exemplo de sincronismo comportamental. Pessoas diferentes, em locais diferentes e de empresas diferentes, são iluminadas pelo mesmo pensamento, no mesmo dia, à mesma hora. Daria um bom argumento para uma série televisiva. O título seria "CashForward", uma série sobre um grupo de terroristas que, durante dois minutos e dezassete segundos, provoca um desmaio global no país com a subida dos preços dos combustíveis, prometendo mais para o futuro.

Sem comentários: