Já toda a gente deve ter passado pela feliz e parva experiência de adormecer num local público. E quem disser o contrário, das duas uma: ou não sai de casa ou então, simplesmente, está a mentir. Adormecer na praia é banalíssimo; dormitar no cinema também não é nada de anormal. Outro dos sítios onde também se dorme muito bem é nas salas de aula. Estudante de Direito que nunca tenha adormecido numa aula nunca há-de ser um bom jurista. A essência do jurista culto de que tanto nos falaram assenta também na ideia de um jurista descansado, que medita de olhos fechados, abstraindo-se de tudo o que o rodeia. O problema de se adormecer num local público é que fazemos uma figura ainda mais parva ao acordar. É comum vermos pessoas a erguerem a cabeça quando estão deitadas na praia, com a baba a escorrer para a toalha e com aquela expressão facial inconfundível de quem não sabe onde está. E isto é muito grave. Uma pessoa acordar e não ter a perfeita noção das horas nem do local onde se encontra deve ser das piores imperfeições com que o Criador nos brindou. Fica-se sem a noção da realidade envolvente e, se por vezes dizemos algo que não queremos quando estamos a dormir, a verdade é que quando estamos a acordar também dizemos coisas ridiculamente cómicas. Só isto poderá explicar algumas das propostas que os nossos deputados levam a votação na Assembleia da República. Um deputado que acorde repentinamente e diga uma asneira corre o sério risco de ver a sua asneira aprovada por unanimidade no Parlamento já que os outros deputados, ao serem bruscamente acordados para a votação, não conseguem ter o discernimento necessário para saberem o que estão a aprovar. E se a votação for da parte da tarde, ainda será pior. O ser humano deveria ter a opção "Hibernar", tal como os PC's, para que, mal acordassemos, o nosso cérebro já estivesse a funcionar a 100%. Mas não temos e é uma pena.
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