Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e mudam-se também as formas de insultar os árbitros. Ainda sou do tempo em que o insulto passava por referir a profissão duvidosa da mãe; passava também por lhe chamar carinhosamente boi preto e de perguntar se precisam de óculos; e o insulto acabava sempre por meter a mulher do desgraçado ao barulho. Esta história toda vem a propósito de uma notícia que surgiu nos últimos dias em que, supostamente, vários sujeitos mandavam SMS aos árbitros a insultá-los e ameaçá-los. Indivíduos que estão agora a ser julgados. Curiosamente, o conteúdo de uma das SMS que foi considerada das mais ameaçadoras e repugnantes dizia o seguinte:"Sei que a tua mulher está sozinha em casa...". Isto é um insulto? Ou ameaça? Desde quando? Acho que é bom os árbitros saberem que quando estão fora de casa as suas esposas não "convidam" o padeiro ou o homem do gás para entrar. O facto de elas estarem sozinhas é bom sinal. Assim como é bom saber que há pessoas anónimas dispostas a vigiar a casa sem ser preciso pagar nada. É só coisas boas. Mas eles não gostaram! Antigamente, dizia-se aos árbitros para irem para casa porque a sua querida esposa estava a dar abrigo a um moçambicano. E em resposta víamos amplos sorrisos estampados nas caras dos homens do apito. Sorrisos trocistas. E agora que lhes dizem que afinal a sua querida esposa está sozinha em casa, eles levam a mal e vão fazer queixinhas aos tribunais. Se dizemos que a mulher é uma badalhoca e não deixa arrefecer a cama, eles não nos levam a sério. Se dissermos que a mulher é fiel, eles levam a mal. Cada vez percebo menos o ser humano. Um dia hão-de receber uma SMS a dizer que o canalizador não foi apenas mexer nas torneiras lá a casa e eles nem vão ligar. Nem a isso nem ao facto de terem pão sempre fresco em casa e não terem gastos nenhuns com isso. Se eles não conseguem ver isto, como é que vão conseguir ver um penalti ou um fora-de-jogo?
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