Portugal é um país de personagens únicas, invulgares. Os genes lusos incutem um tremendo carácter de originalidade a quem os possui, fazendo com que não existam dois parvos iguais. Este perfil psicológico invulgar transforma-nos nos maiores criadores de cenas inocente mas muito estupidamente parvas. Umas destas "aves raras" é Isaltino Morais, presidente da Câmara de Oeiras. Este ser iluminado que acaba de ser condenado a 7 anos de prisão, vai ser novamente candidato à referida Câmara. Isto porque os portugueses são tão boas pessoas, mas tão boas pessoas, que até arranjam "tachos" para os criminosos. A gente séria não merece. Mas o Isaltino demonstrou durante todo este processo que é uma personagem fora do normal e que merece mesmo um novo mandato. Se estivessemos no tempo da Monarquia e caso Isaltino fosse rei, haveriam várias hipóteses para o seu cognome. Ei-las:
Isaltino, o Patriarca: durante o processo, o autarca foi acusado de ter uma conta na Suiça cujo dinheiro depositado era de "origem incerta". Isaltino defendeu-se, dizendo que a conta era da irmã e do sobrinho. Este homem é um exemplo para o mundo nesta época de descrença e da decadência dos valores morais. Isaltino "adoptou" também as contas dos familiares e gere-as como se fossem suas! É que parecem mesmo dele! Compra, investe, transfere. E o capital sempre a aumentar. Um bom exemplo de uma família feliz.
Isaltino, o Poupado: segundo Isaltino, o crédito na conta que detinha na Suiça dizia respeito a dinheiro que havia sobrado das campanhas eleitorais. Quando vemos o Presidente da República a vetar o novo diploma do financiamento partidário, fica aqui mais um bom exemplo de boa gestão. Não é necessário gastar tanto dinheiro em isqueiros, canetas, aventais, bolas e baralhos de cartas nas campanhas. Também é possível poupar e colocar essas poupanças a render na Suiça. Como diz o povo, no poupar é que está o ganho.
Isaltino, o Precavido: em plena crise económica, seria possível que Isaltino cometesse o erro de depositar o dinheiro num banco português? Nada disso. Isaltino é astuto, tem visão e não correria riscos de perder o dinheiro ganho com "muito suor" num qualquer banco falido português. Por isso escolheu um banco suiço. Não há sítio onde o dinheiro esteja mais seguro. Dava um bom ministro da Economia...
Isaltino, o Político: afastou-se do governo de Durão Barroso em que era ministro, depois desta famosa conta na Suiça ter sido descoberta e pelo facto de Isaltino não a ter declarado ao Tribunal Constitucional. Nesse preciso momento, assumiu que não iria exercer qualquer cargo público enquanto estivesse a decorrer o processo. Como bom político que é, Isaltino não cumpriu a promessa. Logo de seguida tornou-se presidente da Câmara de Oeiras. A política consiste em dar o dito por não dito, em não honrar os compromissos. E Isaltino é um "expert". Se bem que, da maneira como ele se apoderou de Oeiras, a presidência da Câmara não será um cargo público mas antes um caso de gestão privada.
Isaltino, o Bem-educado: a boa-educação exige que não recusemos uma oferta, um presente, qualquer que seja ele. A cavalo dado não se olha o dente. Por ser bem-educado, Isaltino acabou por ser condenado por abuso de poder e corrupção passiva, apenas por ter aceite um cheque de 4 mil euros e um terreno oferecido pela Câmara de S.Vicente, em Cabo Verde. Neste país até a boa-educação é crime.
Isaltino, o Parvo: às vezes, quando estamos muito concentrados em nos defender de críticas e ataques pessoais, acabamos por "dar tiros nos próprios pés". A exaltação do Ser Humano baixa consideravelmente os níveis de atenção relativamente àquilo em que pensamos e que dizemos, e acabam por sair verdadeiras "pérolas" do humor mais parvo que pode haver. Isaltino foi confrontado pela juíza por alegadamente ter andado a fugir ao Fisco. E o que diz Isaltino? Que é tudo mentira? Que é uma cabala contra ele? Que o Fisco se enganou? Não. Nada disso. Isaltino assumiu ter fugido ao Fisco e disse que "todo o bom português o faz". Que grande desculpa. Sim, senhor! Há pessoas que fogem ao Fisco e elas servem de desculpa para eu fazer o mesmo. Aliás, eu ando aos tiros aqui na aldeia porque vejo o pessoal na televisão a fazer o mesmo... Ó Isaltino.